quarta-feira, 12 de junho de 2013

Querido Santo Antônio





Meu Querido Santo Antônio, 

Por toda minha vida o senhor fingiu que não me conhecia.
Talvez seja porque o senhor não gostou muito de passar uma semana de cabeça pra baixo dentro do freezer.
Compreendo seu teor vingativo em me ignorar o resto da minha adolescência e parte da minha juventude.
Mas eu beirava o desespero e o coraçãozinho falou mais alto.
Me contaram que se eu te fizesse de refém era tiro e queda. 
Fui lá e fiz com a cara mais inocente do mundo.
Mas quem disse que funcionou??
Era muito mais fácil o senhor abrir a porta da geladeira e sair do freezer do que aparecer alguém na minha vida.
Quer dizer, alguém que valia a pena.
Desde então eu chutei o balde, e o senhor tratou de me esquecer.
Juro que não queria essa inimizade por tanto tempo, também não queria te chantagear já que sabemos que essa é uma forma corrupta de conseguir algo.
Mas minha mãe insistia pra eu ir conversar com você, levar um pãozinho na terça, que o senhor tinha bom nome na praça e isso me encantou mais que micareta de axé no feriado.
Pois bem, resolvi investir, mas o que aconteceu nos anos seguintes foram muitos anos de gata borralheira.
E o senhor não teve dó.
Judiou mesmo.
De me fazer chorar no meio da festa, perder um rodeio inteiro, noites em claro, olheiras eternas,  horas bisbilhotando orkuts alheios para nunca ser correspondida a altura do que eu sabia que merecia.
Mal cheguei aos 20 anos e já sofria mais que Maria do Bairro, mais que noiva esquecida na porta da Igreja...
Troquei minha grande ingenuidade por uma fantástica capacidade absurda de criar fábulas amorosas que no final desmoronavam com o tempo. 
Aliás, com questão de semanas.
Aí as vezes as coisas acalmavam e eu achava que estava tudo ficando bem e pronto,  acabava o que era doce!
Pobre não tem sorte nem no bendito Amor.
Todo esse drama sentimental rolando na minha vida e o senhor atendendo o resto da cidade.
Não adiantava eu suplicar, perdi e nem implorar.
Era milagre pra lá e só maluco beleza pra mim.
Na certa o senhor pensava que eu não precisava de milagre que me contentava com expectativas e claro me colocou literalmente no freezer todos esses anos.
Enfim, tudo ia de mal a pior, de um dia eu ter que partir dali.
E acho que foi nesse dia, vendo toda minha agonia que o senhor resolveu ficar de bem.
Eram dias normais e justamente deve ser essa fama que te faz ser santo.
Nesses dias senti o clima de perdão no ar, não era possível moça sofrida como eu que já havia tentado tantas vezes conhecer um cara como esse.
E agora não há quem possa discordar: esse milagre é dos bons e eu garanto.
É coisa que só o santo como o senhor sabe fazer.
Porque cá pra nós, é bom demais pra ser verdade.
E agora, depois que o senhor ficou tão bonzinho e me levou até o altar e graças não fui esquecida e nem abandonada (embora eu tenha chegado na capela antes do noivo) o que cresce entre nós é tão bonito, tão intenso, tão claro que moça feita como eu às vezes tenho medo de não conseguir retribuir tanto amor.
Só sei que nesse dia dos namorados e véspera do seu dia, vou mandando essa cartinha pra agradecer, comemorar e seguir extrapolando nosso união.
Mas olha, continue por perto viu.
Que a coisa tá dando certo.
E eu só sei amar.
(Iara Maria)






Feliz Dia dos Namorados!

Um comentário:

  1. kkkk...adorei amiga!
    "Era muito mais fácil o senhor abrir a porta da geladeira e sair do freezer do que aparecer alguém na minha vida"...foi ótimo! Muito me identifiquei kkkk

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