sexta-feira, 5 de julho de 2013

TEMPOS DE MUDA - Por Ana Jácomo


Untitled


Os passarinhos quando estão na muda parecem tristes.

Não sei se ficam, de fato, nunca entrevistei nenhum, mas que parecem, parecem. Costumam se recolher, ficar na deles, fazer poucos movimentos, guardar o canto. É como se voassem temporariamente para um lugar feito de quietude e necessária solidão. É como se precisassem economizar toda a energia possível para a valiosa tarefa que está sendo realizada e que não é concluída da noite para o dia, como num passe de mágica. Não dormem de um jeito e amanhecem de outro, a roupa toda bonita, prontos pra passeio. Há que se ter paciência. Nunca li nada a respeito, pura observação: convivi com muitos pássaros na minha infância, não é por acaso que eles voam com tanta frequência no meu imaginário poético.

Olhando de lá, lembro com nitidez, eu não conseguia entender por que eles ficavam daquela maneira só porque estavam trocando as penas. Deveriam se sentir felizes por ganhar roupa nova, eu imaginava nas minhas associações infantis. Por mais que tentassem me explicar o que acontecia, eu não me sentia esclarecida, achava que era pouco motivo para uma mudança de comportamento tão grande. Vai ver que isso dói, eu pensava, solidária. Olhando daqui, continuo sem ter certeza se muda de pássaro é doída, mas descobri durante o caminho, ao sentir na própria pele, que muda de gente é.
Cada nova que acontece, e acontece com todo mundo de tempo em tempo.

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