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Desde que se entendia por gente, ela se encantava pelas luzes daquela cidade.
Convenhamos, são lindas olhadas de longe.
Ela passava dentro do carro no banco de trás, quase com a cabeça encostada no vidro.
Ficava olhando as luzes vindas principalmente dos prédios.
E daquelas janelas reluzentes, imaginava como era a vida de cada pessoa.
Seus medos, suas aflições, seus desejos, amores e disabores.
Seguia deslumbrada com aquilo. Com tantas vidas diferentes ali na sua frente.
Com tanta coisa nova que poderia aprender naquela cidade.
Seu coração palpitava com a idéia.
Sentia que a cada encontro com essa cidade mais amante dela se tornava.
E parada em um sinal ela olhou para o lado.
Percebeu um homem de barba bem feita.
De terno e gravata já frouxa. Vidros levantados. Pensamento distante.
Ela ficou ali fitando-o. Maravilhada com a cena.
Querendo saber o que passava naquela cabeça. Para onde ele estava indo.
Sabia que nunca mais iria ver aquele rosto novamente.
Fez da cena uma eternidade.
O sinal abriu. Cada um seguiu para seu lado.
Como deve ser os encontros e a vida. Fazer de cada instante mágico.
Apreciar todo aquele momento como se fosse o último.
Ela sentia o cheiro da novidade no ar. Sentia o sangue correr mais forte nas veias.
E por isso se fascinava com cada rosto desconhecido.
Imaginava a mistura dos velhos com os novos amigos.
Sonhava com o sotaque do seu novo e último amor.
Pensava em tudo que estava a sua espera.
E a cada volta daquela cidade, suspirava.
Suspirava com o dia que estaria nela pra viver seus novos dias.
E desejava, como desejava.
Que esses dias chegassem logo, pois suas asas já cresceram o suficiente para bate-las por aí.
Há mais vida do que as vezes cabe no recorte da nossa janela.
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