sexta-feira, 3 de setembro de 2010

PAI

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A primeira vez que senti falta de um "pai" eu já estava na escola.

No primeiro ano da escola. Foi quando eu tinha que fazer um desenho e entregar no dia dos pais.
Não lembro direito, mas devo ter entregue pra Dona Dita. Sem maiores perguntas.
Mas na ausência daquele que deveria cumprir com dignidade esse papel, veio outro presente melhor.
Eu não sei se um dia gostaria  de ser outra pessoa. Mas sei que se eu pudesse gostaria de ser o máximo parecido com ele.
Na verdade uma mistura de Pedro Camargo e de Dona Dita.
Talvez aí sim eu seria uma fortaleza completa.
Ele é daquelas pessoas que se orgulha da história que tem.
De quando ainda  aqui em Minas ia pra escola na rua de terra, e o único calçado que tinha, ele tirava dos pés pra não sujar, e tornava a calçar na porta da escola.
E eu me orgulho de ouvir essa história e muitas outras da infância simples junto com meus avós e da perda dos pais tão cedo.
Ele nunca teve estudo, tirando o diploma de "grupo", mas sempre foi inteligente e isso bastava antigamente.
Na verdade acho que basta até hoje.
Cresceu e pra cidade grande partiu.
Lá trabalhou de quase tudo. E venceu. E venceu muito. E da onde veio para onde está hoje, é de se bater no peito e dizer: eu consegui!!
Me emociono com grande facildade em falar dele.
Porque mesmo de tão longe sempre esteve presente na minha vida.
E pra tudo. De amor a dinheiro. De puxão de orelha, a mãos dadas andando na beira da praia.
O pai que eu deveria ter nunca se quer quis saber se meu dia foi bom.
Mas o pai que eu tenho sempre quer saber dos detalhes de tudo.
E nunca questionei Deus por isso. Ganhei outra pessoa melhor.
Feita de caráter, de alegria, de simplicidade e muita inteligência.
Benção de Deus.
Ao longo desses meus quase 24 anos, aprendi que não devemos nos revoltar com alguma coisa que não nos foi dada.
Que família é aquela que te dá amor e até brigas de vez em quando, mas que vão estar sempre te defendendo ao teu lado.
Meu Tio Pedro sempre foi assim. Mais que um tio. É meu PAI.
Pode até não ser biológico, mas tenho o sangue dele correndo em minhas veias. E pra mim isso que importa.
Por muito tempo achava esse assunto delicado. E pra poucas pessoas contava essa história.
Mas hoje vejo que tudo contribuiu pra ser a mulher que sou.
Quanto orgulho disso. Como é bom ser amada. Ganhar telefonema e abraço apertado.
Outro dia, tive um sonho ruim com ele, e meu coração apertou.
Liguei e realmente tinha acontecido algo. Com 80 anos já não se é mais tão forte quanto antigamente.
Meu coração ainda não aceita isso. Meu coração deseja muita vida pra ele.
Ainda tenho muito que fazer e preciso dele pra me dar bons conselhos.
Mas é de alma agradecida que penso em tudo que já aproveitei ao seu lado.
Um amor especial. Sincero. Puro.
Um homem que tatuei em sua homenagem uma estrela no meu corpo.
Que quando Deus me der um filho com certeza irá se chamar Pedro.
E que quando Deus levar ele de mim a vida nunca mais será a mesma.
Fecho os olhos pra pensar em tudo isso.
No quanto ele é importante pra mim.
Não sei mensurar o tamanho desse amor.
Mas sei curvar a cabeça diante de Deus e agradecer por ter esse sentimento e essa benção na minha vida.

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